A entrevista do Paulo Bernardo no Estadão, um exercício de desinformação

A entrevista do Paulo Bernardo no Estadão, um exercício de desinformação

Não dá para considerar como  entrevista (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,brasil-exigira-respeito-a-privacidade-na-rede,1053264,0.htm): os entrevistadores dão o microfone para o entrevistado, nosso ministro das comunicações, fazer o seu jogo. Entrevista ocorre quando há perguntas fundamentadas e contrapontos e contestações quando é necessário.

Vamos à entrevista ou, melhor, exercício de desinformação: Paulo Bernardo fala que vai exigir explicações do governo norte-americano sobre a espionagem em massa que foi feita no Brasil. Até aí, tudo bem. É a obrigação do seu ministério.

Em seguida, ele argumenta que o órgão que regulamenta a internet globalmente, sem citar o nome, Icann (http://en.wikipedia.org/wiki/ICANN), é ligado ao departamento de comércio dos EUA, procurando levar o leitor desavisado acreditar que se trata de uma uma extensão do governo norte-americano e que defende exclusivamente seus interesses.

Não diz que é uma instituição do mundo científico global, com brasileiros no board, e responsável até agora pela liberdade e neutralidade da rede, que desde o início vem sendo ameaçada pelas empresas de telecomunicações de todo o mudo, que têm um poder desmesurado  por terem o monopólio do acesso à internet e que lutam com todas as suas forças, maior que a maioria dos governos do planeta, para acabarem com a neutralidade da internet para poderem lucrar ainda mais com a rede. E os entrevistadores do #Estadão? Deixam o ministro com o microfone e não fazem nenhuma das perguntas obrigatórias sobre esta questão.

Além, de não fazerem as perguntas obrigatórias, aceitam a argumentação do ministro de que a reunião da União Internacional das Telecomunicações, UIT, um braço das empresas de Telecomunicações, sem nenhum compromisso com a liberdade de neutralidade da rede, em Dubai, abriu a discussão sobre uma forma de tirar o poder dos EUA sobre a internet.

China, Irã e a Líbia do facínora Kadafi, junto com o Brasil do PT, foram alguns dos governos de países que se aliaram às empresas de Telecomunicações. Evidentemente, não porque estão comprometidos com o a liberdade e a neutralidades da internet e o processo de inovação que ela desencadeou. Porque querem controlar a internet e ter o domínio da informação contra os interesses dos cidadãos das nações que deveriam representar e servir.

Mas o jogo de desinformação do ministro, com a cumplicidade da ignorância e falta de profissionalismo dos pseudos jornalistas do #Estadao não para aí. Paulo Bernardo fala da instituição brasileira responsável pela gestão da internet aqui, o Comitê Gestor da Internet, que tem uma “minoria de representantes do governo”, como se isso fosse um erro, um defeito. E não um mérito, algo extremamente positivo e necessário para o futuro da liberdade e da neutralidade da rede. A cidadania está representada, as teles estão representadas, os agentes da economia estão representados e o governo de forma minoritária, como deve ser. Desta forma, o órgão não está nas mãos do governo, seja lá quem for que detenha o poder.

Pra terminar, os pseudos jornalistas do #Estadao, não fazem nenhuma pergunta sobre o Marco Civil da Internet, que está para ser votado pelo nosso medíocre Congresso e que em função dos interesses do Paulo Bernardo (contribuir para a  eleição de sua mulher como governadora do Paraná), da falta de compromisso com o interesse público dos nossos deputados e senadores e do poderoso lobby das empresas de Telecomunicações corre o risco de sofrer adendos que podem transformar num frankenstein uma lei considerada exemplar em todo o mundo e que já passou por todos os processos de debate público. Deveria ser aprovada como está e ponto final.

É isso aí: o #Estadao graças à falta de profissionalismo e ignorância dos seus jornalistas fazendo o jogo do Brasil da parte mais sórdida do PT em função de um jogo de poder global que sempre existiu e deve ser combatido. Mas com inteligência, seriedade e profissionalismo. É triste e dolorido ver isso num jornal com a história do #Estadão.

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