A neurose é brava (uma reflexão sobre como me informo)

A neurose é brava (uma reflexão sobre como me informo)

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Por Pedro Doria

Foi só parar para pensar em sua pergunta – sobre como me informo – que, descobri, ela é muito mais complexa de responder do que achei no primeiro momento. Por isso mesmo, é uma pergunta instigante.

No meu caso, levo em conta duas variáveis.

1. O momento do meu dia dita as ferramentas/plataformas que uso.
2. Há um régua que mede o nível de profundidade da informação: daqueles temas sobre os quais preciso conhecer muito, em que além de informação é preciso também uma bagagem de reflexão, até aqueles mais genéricos nos quais apenas saber da existência basta.

É claro que o fato de que sou jornalista de redação distorce meu exemplo.

Deixa eu começar pelas minhas necessidades de informação.

No Globo, meu principal trabalho é entender o presente digital e ao menos tentar imaginar o futuro. Então preciso acompanhar muito o que está acontecendo na imprensa aqui e no mundo, tanto do ponto de vista do jornalismo quanto do negócio. Sou também colunista de tecnologia no jornal e do Jornal das Dez, da GloboNews. E escrevo uma coluna semanal no Globo a Mais, nossa publicação para o tablet, sobre eleições americanas. Jornalismo, tecnologia e política americana são os assuntos nos quais tenho de mergulhar.

O Globo é o principal jornal do Rio e o Rio está sofrendo uma transformação profunda: é transformação econômica – um dos PIBs que mais cresce no país –, urbanística, cultural, demográfica. As vizinhanças estão todas mudando de cara, as lojas mudam, os sotaques presentes na cidade. Este é um processo que tenho de acompanhar para prestar um bom serviço para os leitores. Não é um tema sobre o qual escrevo recorrentemente, mas está no topo da minha lista de prioridades, junto com a crise econômica mundial e a política nacional. É o tripé de sustentação de um bom jornal – e me refiro a jornal, aqui, para além do papel.

Na sequência, mantenho no radar o que está acontecendo no futebol (embora o Flamengo não esteja trazendo lá muitas alegrias), todo mês compro um ou dois discos recém-lançados, acompanho algumas séries de TV e tento assistir a capítulos das que não acompanho; tento ter uma ideia do que está acontecendo nas principais novelas, embora não chegue as assistir; e procuro saber o que está na lista dos best-sellers. Não dá para ler tudo e há outros livros que prefiro ler, muitas vezes, mas no mínimo algumas resenhas leio. Estamos mergulhados num mundo em que referências culturais são importantes. Como jornalista, pertencer a este nosso tempo é parte do trabalho.

Aí vem a rotina diária.

Sou editor executivo. Assim, quando sento na cadeira de balanço da sala para ler o jornal de manhã, já conheço a primeira página – eu a recebi em PDF, por email, na noite anterior; participei da conversa sobre o que deveria estar nessa primeira página, quais as melhores fotos, já ouvi dos editores suas decisões a respeito do que abriria seus cadernos. O jornal da manhã, para mim, é o encerramento de um ciclo que teve início no dia anterior, com o site. Estou menos preocupado em me informar e mais preocupado com o que não temos, se no dia anterior nos escapou algum ângulo que devemos recuperar.

Na sequência, saio para correr. Com o iPhone e algum podcast ou audiolivro tocando. Ouço dois programas de rádio americanos com frequência semanal: This American Life, espécie de jornalismo literário feito para o rádio; e On The Media, que cobre a imprensa no mundo. Além destes, ouço os podcasts Planet Money (de economia); This is Politics e The Political Scene (o segundo é da New Yorker, ambos sobre política americana); TWiT e TWiG, ancorados pelo brilhante Leo Laporte, que reúne sempre uma mesa redonda inteligente para conversar sobre o noticiário de tecnologia. Sou assinante, ainda, da Audible.com, que me permite fazer o downoload de dois audiolivros por mês.

Chego na redação entre 10h e 11h e saio dela entre 19h e 20h. Se estou à mesa, tenho dois monitores na minha frente. Em um está um browser com três abas. Na primeira, a home do Globo; na segunda, a do portal Globo.com; na terceira um sistema de audiência em tempo real. No outro monitor estão email, o TweetDeck, e abas do browser que incluem Facebook, Google+ e inúmeros artigos e capas de sites de notícia.

As notícias quentes recebo, normalmente, por duas fontes. A primeira, e principal, é da própria redação. Qualquer grande redação, povoada com jornalistas competentes, ainda é uma baita antena voltada para o mundo. Mas a segunda fonte é o Twitter. Não bate a redação, mas ouço muita coisa pela primeira vez ali. Além disso, passam pelo Twitter muitos links interessantes. Se não leio na hora, jogo no Instapaper. Guardo coisa no Instapaper o dia todo.

O iPhone está sempre à mão, com inúmeros apps piscando notícias, Twitter idem.

Além dos principais sites de notícia brasileiros, ando por outros tantos diariamente. De tecnologia: Engadget, The Verge, Monday Note, Tech Crunch. Sou assinante digital do New York Times – é uma home constantemente aberta por aqui. Nieman Lab, de jornalismo. Recebo da WAN, Associação Mundial de Jornais, um email diário com os links mais interessantes. Leio os principais blogs de política brasileira: a começar pelo nosso Noblat.

No iPad, assino New Yorker, Economist e Runner’s World. As duas primeiras semanais, a outra mensal. Assino a Veja de papel – no mínimo para saber o que eles têm na capa. É obrigação profissional – invariavelmente fará parte da conversa na semana seguinte. Assino a Trip, também, revista para a qual escrevi muito e na qual tenho amigos. E a Piauí. Compro também habitualmente a Fast Company e a Wired, em papel. Este tipo de leitura, assim como a dos artigos que coleciono no Instapaper, exige mais tempo e relaxamento. Quando almoço sozinho, levo o iPad ou uma revista. No táxi de volta para casa, idem. Ou assisto a uma série ou leio alguma coisa. À noite, antes de dormir, idem.

Após escrever tudo isso, descubro: a neurose é brava.

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